quarta-feira, 2 de maio de 2012

EGAS SALGUEIRO — Da EPA ao Teatro Aveirense e à Misericórdia


Texto de Cardoso Ferreira, 

no Correio do Vouga


Egas Salgueiro, à esquerda do Presidente da República, Américo Tomás


Egas da Silva Salgueiro foi um empresário aveirense de grande prestígio no sector das pescas longínquas, em especial do bacalhau. Desempenhou também um papel relevante na Misericórdia de Aveiro e no Teatro Aveirense.



No dia 16 de Março de 1894, em Aveiro, nasceu Egas da Silva Salgueiro, filho de João da Silva Salgueiro e de Virgínia Rosa da Silva Salgueiro. Com apenas 14 anos de idade, Egas Salgueiro deixou os estudos no Liceu de Aveiro e emigrou para o Brasil, tendo residido durante três anos em Pará. Regressou a Aveiro no ano de 1913 para, dois anos mais tarde, voltar a tentar a sua sorte como emigrante, dessa vez em Angola, fixando-se na zona de Benguela, onde permaneceu cerca de dois anos. 
“Nestas suas permanências por distantes terras, não fez fortuna, mas acumulou, apesar dos seus verdes anos, um avultado cabedal de experiência e de conhecimentos práticos que havia de ser de grande utilidade na sua vida futura”, pode ler-se no n.º 6 (1964) da “Flâmula”, revista da Empresa de Pesca de Aveiro (EPA). 
Regressado a Aveiro, Egas Salgueiro entrou para a empresa Salgueiro & Filhos, Lda, da qual era sócio conjuntamente com o pai e irmãos. Em 1918, com a compra do seu primeiro lugre bacalhoeiro, iniciou a sua longa ligação ao sector da perca do bacalhau.
Em 1922, Egas Salgueiro organizou a Empresa de Navegação e Exploração de Pesca, tendo adquirido três lugres para a pesca do bacalhau. Após a dissolução dessa empresa, em 1927, foi um dos fundadores, no ano seguinte, da Empresa de Pesca de Aveiro, da qual passou a ser gerente delegado, gerindo “os seus destinos com tal inteligência, dinamismo e segurança, que, ao fim de 36 anos, esta empresa, com os seus 1.100 empregados e operários, é justamente apontada como um dos maiores valores económicos do distrito de Aveiro e um dos grandes pilares da Organização Corporativa da Pesca”, pode ler-se no já referido número da “Flâmula”. 
Em 1930, a EPA foi a primeira empresa portuguesa a enviar um navio (lugre “Santa Mafalda”) para pescar bacalhau nas águas da Gronelândia. Foi também a primeira a dotar os seus navios com motores propulsores. Até então eram veleiros. Com a entrada em funcionamento dos arrastões “Santa Joana” (1936) e “Santa Princesa” (1940), introduziu em Portugal a pesca de bacalhau por arrasto. A par das inovações nos navios e nos métodos de pesca, a EPA inovou também nas instalações em terra, sendo a primeira empresa a construir grandes armazéns frigoríficos e secagem artificial de bacalhau. 
Em 1952, com os navios atuneiros “Rio Vouga” e “Rio Águeda”, a EPA foi a primeira empresa portuguesa a enviar navios para a pesca longínqua do atum. Três anos mais tarde, iniciou também a pesca de arrasto costeiro. 
Em complemento à pesca, a EPA interessou-se também pela indústria conserveira. Em 1957, fundou, em Agadir (Marrocos), uma fábrica de conservas de peixe de farinha de peixe. Na década de 1960, abriu também uma fábrica de conservas, na Gafanha da Nazaré. Por essa altura, foi autorizada a instalar um grande complexo industrial de pesca e de conservas na zona de Moçamedes (Angola). 

Outros interesses económicos

Ainda que a pesca fosse o sector privilegiado da sua ação empresarial, Egas Salgueiro alargou os seus interesses a outros económicos. 
Em 1939, entrou para o conselho de administração da Companhia Aveirense de Moagens, ao qual passou a presidir no ano seguinte, onde se manteve por mais de duas décadas. Nesse período, a empresa montou novo equipamento de descasque de arroz e construiu a nova fábrica, junto da antiga (onde hoje está a Fábrica – Centro de Ciência Viva de Aveiro). 
Em 1928, Egas Salgueiro assumiu o cargo de diretor do Banco Regional de Aveiro. De realçar que este empresário aveirense foi um dos financiadores da construção da ponte da Arrábida, projetada por Edgar Cardoso e construída pelo aveirense José Pereira Zagalo. 

Agraciado com o título de Comendador

Egas da Silva Salgueiro foi agraciado com o título de “comendador”, ao receber a comenda da Ordem do Mérito Industrial. A entrega das insígnias teve lugar no Teatro Aveirense, numa cerimónia realizada no dia 10 de janeiro de 1966, organizada por uma comissão constituída por António Dias Leite, Firmino da Silva, Carlos Aleluia, José Pereira Tavares e Pompeu Cardoso, a que se associaram as duas corporações de bombeiros de Aveiro, o Beira-Mar, a Sociedade Recreio Artístico e o Rotary Clube de Aveiro. 
A sessão foi presidida por Manuel Louzada (governador civil). A mesa contou com as presenças do Almirante Henrique Tenreiro, dos presidentes das câmaras municipais de Aveiro e de Ílhavo e do presidente da Junta Distrital, entre outras personalidades. O Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade esteve sentado em lugar especial. 

Teatro, Câmara e Misericórdia

Apesar da sua intensa atividade empresarial, Egas Salgueiro desempenhou funções autárquicas, nomeadamente as de vereador na Câmara Municipal de Aveiro. 
Presidiu ainda à direção do Teatro Aveirense no triénio 1947-1949, período em que o imóvel beneficiou de profundas obras de ampliação e remodelação. 
De 1949 a1954 e de 1964 a 1974, Egas Salgueiro foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro. De realçar que foi durante este segundo período que a Igreja da Misericórdia passou por importantes obras de restauro e beneficiação, reabrindo ao público em 1969, numa cerimónia eucarística presidida pelo bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade. 
Egas Salgueiro deixou o seu nome também ligado a diversas instituições aveirenses, entre as quais as corporações locais de bombeiros e o Rotary Clube de Aveiro.

Colecionador de arte

No livro “Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Aveiro – Zona Sul”, editado em 1959, A. Nogueira Gonçalves escreve sobre as coleções que pode observar na cidade de Aveiro. “A mais notável é a do Senhor Egas Salgueiro, diretor da Empresa de Pesca de Aveiro, a qual é fundamentalmente constituída por marfins, de diversos centros de fabrico e da melhor categoria, em número de bastantes dezenas”. 



2 comentários:

JPessoa disse...

Por acaso tem informação relativa à data de falecimento e local de Egas Salgueiro?
Ele faz parte dos meus antepassados e falta-me essa informação.

Anónimo disse...

Uma pequena correcçao que em nada ofusca este historial.
Os dois primeiros lugres a serem motorizados em 1932, foram o Lusitânia III da Lusitânia e o Infante de Sagres da Sociedade Infante de Sagres. A EPA motorizou todos os seus lugres para a campanha do ano seguinte (1933).

Ricaedo Matias