quarta-feira, 23 de maio de 2012

Cooperativa Elétrica da Gafanha da Nazaré foi constituída em maio de 1938


Professor Filipe


Em 7 de Maio de 1938, por escritura pública lavrada no cartório notarial do Dr. Adelino Simões Leal, e publicada no Diário do Governo, de 4 de Junho do mesmo ano, foi constituída a Cooperativa Elétrica da Gafanha da Nazaré (CEGN), com o objetivo de adquirir e fornecer energia elétrica aos seus cooperantes. 
Até essa altura, a laboriosa população da Gafanha da Nazaré alumiava-se com os candeeiros a petróleo, velas, lanternas, quando não apenas com a fogueira do borralho. Também o Farol da Barra de Aveiro utilizou o petróleo para alimentar o foco luminoso, que guiasse os navegantes, até 1936, ano em que passou a beneficiar da energia elétrica, fornecida por um sistema eletrogénio. 
Perante a incapacidade de a Câmara Municipal de Ílhavo se responsabilizar, através dos seus serviços, pelo fornecimento de energia, que era uma necessidade, tanto para as populações como para o comércio e indústria da Gafanha da Nazaré, um grupo de gafanhões avançou com a ideia de criar uma cooperativa. Mestre Manuel Maria Bolais Mónica surgiu à frente de alguns conterrâneos, entre professores, comerciantes, industriais, proprietários e um sacerdote. 
Os mentores do projeto percorreram a freguesia, numa tarefa de sensibilização, considerada importante, e de angariação de sócios, cujo número justificasse a criação da referida instituição. 
Nesse grupo havia representantes de diversas classes sociais, que registamos para a história:

Professores: Manuel Filipe Fernandes e Manuel Nunes Carlos; 
Industriais: Manuel Maria Bolais Mónica, António Bolais Mónica, Manuel Maria Ramos, João Maria Vilarinho, António Marques da Cunha e João dos Santos (Carolino); 
Comerciantes: Alberto Ferreira Martins, Manuel Caçoilo da Rocha, António da Rocha e Henrique Ramos; 
Proprietários: Manuel Cravo Júnior, António José dos Santos, Raul Ventura, Manuel Teixeira e João Teixeira da Rocha; 
Padre: António da Silva Caçoilo. 

Grandes dificuldades teve de enfrentar a CEGN nos primeiros anos, porque não foram muitos os que aceitaram associar-se. Mas os fundadores não desanimaram e cedo a luz elétrica, ainda a tremer, permitiu que, pela primeira vez, nas Gafanhas, os rostos de uns tantos privilegiados pudessem ser contemplados já de sorrisos abertos de alegria. Era a felicidade dos que, pelas suas posses ou coragem, podiam na roda de amigos, no adro da igreja ou na taberna vizinha, dizer, bem alto, “eu já tenho luz; que maravilha!” Esta seria, aliás, a primeira e mais convincente publicidade que se fazia à jovem cooperativa e ao produto que ela fornecia. 
Considera-se que a CEGN foi, sem dúvida, uma manifesta prova da vontade coletiva dos gafanhões, sinal de progresso e agente promotor de desenvolvimento a vários níveis. 

No dia 3 de Dezembro de 1938 foi transcrito para a ata da CMI o caderno de encargos da instalação da rede elétrica de iluminação pública e particular. É um documento de várias páginas. A entidade responsável por esse projecto seria, como veio a acontecer, a Cooperativa Elétrica da Gafanha da Nazaré. 
A ata n.º 1 da Assembleia Geral Ordinária da CEGN realizou-se na sede do Grémio Instrução e Recreio, no lugar da Cale da Vila, no dia 8 de Janeiro de 1939. A sessão foi presidida pelo sócio Manuel Nunes Carlos, servindo de secretários Sebastião Pedro da Costa e João dos Santos. 
Não havendo contas a aprovar, por inexistência de atividade, o presidente da mesa prestou informações sobre o andamento dos trabalho em curso inerentes às instalações elétricas. Depois propôs um voto de louvor «muito especial» à Fábrica de Porcelanas da Vista Alegre e ao seu muito digno Diretor-delegado, Senhor João Teodoro Ferreira Pinto Basto, «pela solicitude com que sempre acompanhou os trabalhos da Direção e pelo empenho que manifestou em conseguir aplanar todas as dificuldades que surgiram para a finalidade do melhoramento a concluir e pela espontaneidade com que concorreu com material isolador elétrico no valor aproximadamente de três mil escudos, importância que muito veio ajudar a Cooperativa a dar os primeiros passos. 
A mesma acta sublinha e louva o «sacrifício e boa vontade ou antes entusiasmo de que sempre esteve possuída a Direção do exercício anterior, a qual sempre acompanhou de perto e com interesse para a Cooperativa todos os trabalhos em organização». 
Os corpos gerentes saídos desta Assembleia, para o exercício de 1939, ficaram assim constituídos: 

Assembleia Geral: Manuel Nunes Carlos, Manuel Nunes Ribau e Sebastião Pedro da Costa, como efetivos; Manuel dos Santos da Silva Vergas Júnior, António Bolais Mónica e Ricardo Ferreira Sardo, como suplentes; 

Direção: Manuel Filipe Fernandes, Manuel Maria Ramos e João dos Santos, como efetivos; Manuel Caçoilo da Rocha, António Marques da Cunha e Manuel Teixeira, como suplentes; 

Conselho Fiscal: Alberto Ferreira Martins, Raul Ventura e Manuel Maria Bolais Mónica, como efetivos; Manuel Cravo, António da Rocha e João Maria Vilarinho, como suplentes. 

Na Monografia da Gafanha  do Padre João Vieira Resende vem a informação de que a inauguração aconteceu efetivamente em 1939 e que a igreja matriz passou a receber energia em 1 de Novembro do mesmo ano. Ainda diz que a rede importou em 95 000$00 (hoje, €475). 

Pelo decreto n.º 344/3/82, de 1 de Setembro, depois de 44 anos de serviço à comunidade, é forçada a reconverter-se no ano seguinte, optando pelo nome de Cooperativa Cultural e Recreativa da Gafanha da Nazaré.

Fernando Martins

1 comentário:

A. Cravo disse...

Não fosse a iniciativa dos Gafanhões em se constituir em cooperativa para nos proporcionar a energia eléctrica e por tudo o que os mais velhos sabem e sentem, essa incapacidade da CMI ainda hoje se manteria!!!