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Apelidos e Alcunhas da Gafanha

Recolha de António Augusto Afonso, 
residente nos EUA

António Augusto Afonso


António Augusto Afonso é um gafanhão que muito estimo. Tem quase 92 anos e emigrou para os EUA há bastante tempo. Longe da sua Gafanha, tem sempre as nossas gentes e tradições na memória e no coração. O meu amigo recorda histórias que vivenciou e outras que fazem parte do imaginário dos gafanhões. Descreve cenas do quotidiano da sua infância, juventude e vida adulta, citando nomes, apelidos e alcunhas com uma facilidade enorme. 
Quando as saudades apertam, tem a gentileza de me telefonar, em datas marcantes, para trocar impressões e para se sentir informado. Reconheço pela voz as emoções que o assaltam por se sentir próximo destes ares, através do telefone, e percebo a alegria de saber novas da terra, da ria e do mar, graças à maresia que lhe corre nas veias. Tudo assume como presentes no seu espírito. 
Há tempos enviou-me quadras rimadas em que joga com apelidos e alcunhas dos gafanhões. Julgo que não falta nada. Fruto, obviamente, do resultado de muito pensar e registar. Seria uma enorme pena para todos nós fechar a sete chaves estas quadras que constituem um património inquestionável.
A história de uma terra, mas ainda de um povo e de uma família, precisa de ser partilhada e constantemente enriquecida. Não há, quer da parte de António Afonso quer de minha parte, qualquer intenção de ofender seja quem for. A memória de toda a gente aqui retratada, apenas pelos apelidos e alcunhas, merece toda a nossa estima. Daí que eu dedique aos nossos antepassados e seus descendentes esta publicação, para memória futura. Mas o autor é claro, logo a abrir o seu relato.
Muito obrigado pela vossa compreensão.

Fernando Martins

NOTA: Se houver falhas agradeço informações para completar a lista. 

Apelidos e alcunhas da Gafanha

Ó gafanhões da minha terra
De cá de longe, eu vos saúdo!...

Ó terra que eu amo, eu te saúdo.
Ó terra da boa gente!...
É o que diz quem o sabe,
E muito mais quem o sente.

Ó gafanhões da minha terra
De longe, vos venho saudar.
Com vossos apelidos e alcunhas
Mas a todos respeitar.

Com seus apelidos e alcunhas
Que já lhes vêm de seus avós,
Ninguém sabe donde lhes vieram,
E muito menos quem lhos pôs.

Alguns bastante engraçados
E até originais e bizarros
Tais como Cigarras ou Grilos
Salsas, Vinagres ou Cigarros

Bolas que não rolam nas Relvas,
Fidalgos sem fidalguias nem brasão
Reis, Condes e Marqueses
E até Frades sem gabão.

E que siga a Rusga e viva a Alegria
Com Guitarras e Violas, Fadistas e Cantadores
E Estanqueiros, Cordeiros e Parceiros,
E Carapelhos, Coelhos e… Caçadores.

Teixeiras, Casqueiras e Ferreiras
Camões, Camarões e Calções
Os Ribeiros, os Ribaus e os Maus
Esgueirões, Carranjões e Gafanhões.

Vergas, Peixotos e Calhotos
Caçoilos, Palhaços e Palhaças
Tavares, Tarrincas e Petingas
Mateiros, Mónicas e Margaças.

Páscoas, Dias e Santos
Rochas, Facicas e Barricas
Marques, Varetas e Maguetas
Piorros, Pônas, Laricas e Janicas.

Brancos, Louros e Russos,
Vechinas, Bichos e Bichões
Alhos, Labregos e Cagarutos
Pintos, Retintos e Cagões.

Patas, Penitates e Lourenços
Valentes, Vicentes e Ritos
Torres, Píncaros e Ramos
Cravos, Flores e Bonitos.

Alcatrazes, Maçaricos e Gaivotas
Melros, Piscos e Cucos
Roques, Rolas e Rolos
Raposas, Zanagos e Zucos.

Albuquerques, Alves e Almeidas
Catraios, Catarréus e Catarinos
Serrões, Guerras e Serras
Tomazes e Ferrazes, Cirinos e Marcelinos.

Sousas, Soares e Sardos
Guinchos, Gulaimos e Perselhas
Sarabandos, Estudantes e Galantes
Anastácios, Garcês e Garrelhas.

Carecas, Caleiros e Calistos
Barba Azul, Pinhos e Gandarinhos
Mateus, Matias, Matos e Ratos
Vidreiros, Vieiras e Vilarinhos.

Calores, Neves e Geadas
Covas, Calatrós e Serafins
Bisas, Brióis e Serapões
Martinhos, Martelos e Martins.

Caixotes, Loureiros e Monteiros
Marçalos, Arrais e Morais
E com Lopes, Lés e Cafés,
Serão ainda muitos mais.

E ainda Silvas e mais Silvas
Com Carvalhos, Nogueiras e Pereiras
Figueiras, Macieiras e Salgueiros,
E a grande floresta de Oliveiras.

Não é possível contar-vos a todos
Por ser elevado o número. Contudo…
Ó gafanhões da minha terra,
Com todo o respeito, daqui de longe, vos saúdo.

António Augusto Afonso


NOTA posterior: O meu amigo António Augusto Afonso faleceu nos Estados Unidos em Abril de 2017, com 92 anos.  Ver aqui 

Comentários

Unknown disse…
Muito bom, poderá faltar um ou outro apelido, mas está brutal.
Unknown disse…
Muito bom, poderá faltar um ou outro apelido, mas está brutal.

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