sexta-feira, 22 de abril de 2016

Apelidos e Alcunhas da Gafanha

Recolha de António Augusto Afonso, 
residente nos EUA

António Augusto Afonso


António Augusto Afonso é um gafanhão que muito estimo. Tem quase 92 anos e emigrou para os EUA há bastante tempo. Longe da sua Gafanha, tem sempre as nossas gentes e tradições na memória e no coração. O meu amigo recorda histórias que vivenciou e outras que fazem parte do imaginário dos gafanhões. Descreve cenas do quotidiano da sua infância, juventude e vida adulta, citando nomes, apelidos e alcunhas com uma facilidade enorme. 
Quando as saudades apertam, tem a gentileza de me telefonar, em datas marcantes, para trocar impressões e para se sentir informado. Reconheço pela voz as emoções que o assaltam por se sentir próximo destes ares, através do telefone, e percebo a alegria de saber novas da terra, da ria e do mar, graças à maresia que lhe corre nas veias. Tudo assume como presentes no seu espírito. 
Há tempos enviou-me quadras rimadas em que joga com apelidos e alcunhas dos gafanhões. Julgo que não falta nada. Fruto, obviamente, do resultado de muito pensar e registar. Seria uma enorme pena para todos nós fechar a sete chaves estas quadras que constituem um património inquestionável.
A história de uma terra, mas ainda de um povo e de uma família, precisa de ser partilhada e constantemente enriquecida. Não há, quer da parte de António Afonso quer de minha parte, qualquer intenção de ofender seja quem for. A memória de toda a gente aqui retratada, apenas pelos apelidos e alcunhas, merece toda a nossa estima. Daí que eu dedique aos nossos antepassados e seus descendentes esta publicação, para memória futura. Mas o autor é claro, logo a abrir o seu relato.
Muito obrigado pela vossa compreensão.

Fernando Martins

NOTA: Se houver falhas agradeço informações para completar a lista. 

Apelidos e alcunhas da Gafanha

Ó gafanhões da minha terra
De cá de longe, eu vos saúdo!...

Ó terra que eu amo, eu te saúdo.
Ó terra da boa gente!...
É o que diz quem o sabe,
E muito mais quem o sente.

Ó gafanhões da minha terra
De longe, vos venho saudar.
Com vossos apelidos e alcunhas
Mas a todos respeitar.

Com seus apelidos e alcunhas
Que já lhes vêm de seus avós,
Ninguém sabe donde lhes vieram,
E muito menos quem lhos pôs.

Alguns bastante engraçados
E até originais e bizarros
Tais como Cigarras ou Grilos
Salsas, Vinagres ou Cigarros

Bolas que não rolam nas Relvas,
Fidalgos sem fidalguias nem brasão
Reis, Condes e Marqueses
E até Frades sem gabão.

E que siga a Rusga e viva a Alegria
Com Guitarras e Violas, Fadistas e Cantadores
E Estanqueiros, Cordeiros e Parceiros,
E Carapelhos, Coelhos e… Caçadores.

Teixeiras, Casqueiras e Ferreiras
Camões, Camarões e Calções
Os Ribeiros, os Ribaus e os Maus
Esgueirões, Carranjões e Gafanhões.

Vergas, Peixotos e Calhotos
Caçoilos, Palhaços e Palhaças
Tavares, Tarrincas e Petingas
Mateiros, Mónicas e Margaças.

Páscoas, Dias e Santos
Rochas, Facicas e Barricas
Marques, Varetas e Maguetas
Piorros, Pônas, Laricas e Janicas.

Brancos, Louros e Russos,
Vechinas, Bichos e Bichões
Alhos, Labregos e Cagarutos
Pintos, Retintos e Cagões.

Patas, Penitates e Lourenços
Valentes, Vicentes e Ritos
Torres, Píncaros e Ramos
Cravos, Flores e Bonitos.

Alcatrazes, Maçaricos e Gaivotas
Melros, Piscos e Cucos
Roques, Rolas e Rolos
Raposas, Zanagos e Zucos.

Albuquerques, Alves e Almeidas
Catraios, Catarréus e Catarinos
Serrões, Guerras e Serras
Tomazes e Ferrazes, Cirinos e Marcelinos.

Sousas, Soares e Sardos
Guinchos, Gulaimos e Perselhas
Sarabandos, Estudantes e Galantes
Anastácios, Garcês e Garrelhas.

Carecas, Caleiros e Calistos
Barba Azul, Pinhos e Gandarinhos
Mateus, Matias, Matos e Ratos
Vidreiros, Vieiras e Vilarinhos.

Calores, Neves e Geadas
Covas, Calatrós e Serafins
Bisas, Brióis e Serapões
Martinhos, Martelos e Martins.

Caixotes, Loureiros e Monteiros
Marçalos, Arrais e Morais
E com Lopes, Lés e Cafés,
Serão ainda muitos mais.

E ainda Silvas e mais Silvas
Com Carvalhos, Nogueiras e Pereiras
Figueiras, Macieiras e Salgueiros,
E a grande floresta de Oliveiras.

Não é possível contar-vos a todos
Por ser elevado o número. Contudo…
Ó gafanhões da minha terra,
Com todo o respeito, daqui de longe, vos saúdo.

António Augusto Afonso


NOTA posterior: O meu amigo António Augusto Afonso faleceu nos Estados Unidos em Abril de 2017, com 92 anos.  Ver aqui 

2 comentários:

Unknown disse...

Muito bom, poderá faltar um ou outro apelido, mas está brutal.

Unknown disse...

Muito bom, poderá faltar um ou outro apelido, mas está brutal.

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