POSTAL DO PORTO – 194
NÃ!!… AQUI HÁ COISA!...
Caríssima/o:
Olhar conceituoso e interpelativo de nossas Mães…
Comecei por escrever neste postal. E, na verdade, quer sejamos ‘ele’ ou ‘ela’, lá chega a ocasião em que acena a cabeça e, um tanto incrédula, sentencia de cara ao lado para o Pai estonteado:
- Nã!... Aqui há coisa!
Se nos deixássemos ficar a observar a capoeira, notaríamos as correrias tresloucadas, o cacarejar mais rasgado, o arrastar das asas do galaró à volta da poedeira agachada e ouviríamos a frase desprevenida e certeira da nossa avó adormecida ali sentada:
- Nã!... Aqui há coisa!
E toda esta lengalenga porquê?
Pois: “Luar de Janeiro é o primeiro.”; “Luar de Janeiro não tem parceiro.”; “Não há luar como o de Janeiro.”; “Não há luar como o de Janeiro nem amor como o primeiro.”
É isso: o luar de Janeiro! Mas eu diria tão-só: o luar! Ou até que nessa noite chovesse: a combinação estava feita; à hora marcada, instrumentos agasalhados, garrafa de “refresco” atestada, bicicletas a rolar, as gargantas iam-se aquecendo e afinando o canto. A quem apreciasse a cena por trás da vidraça não restariam dúvidas: «Estes perderam o juízo, com este frio e a chover desalmadamente!...» Lá seguíamos lentamente, como que à toa, até ziguezagueando, com equilíbrios incríveis fazendo inveja aos equilibristas da Feira de Março com as bicicletas de uma só roda!... Enfim deixem-nos ir que o que pagou a “garrafada” sabe o que o move e a ansiedade não o fará perder o norte nem passar além da janela que acesa aguarda ária simples, melodiosa, graciosa, … amorosa.
O tempo voou! Contudo a memória das serenatas perdura e é sempre tema de conversa animada e de ruidosas e sonantes gargalhadas.
Bom luar de janeiro para a Juventude!
Manuel
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