Avançar para o conteúdo principal

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 327



POSTAL DO PORTO – 192 



E o galo, … viste-lo? 

Caríssima/o: 

Sempre que há festa na Terra, renova-se o ambiente, estralejam os foguetes e o riso é mais pronto e fagueiro, escancara-se a salgadeira e o jantar ressuma cheiro e aguça o paladar. Ah, meus amigos, a alegria espelhada nos rostos, provocada pela fartura, espalha-se por todo o canto. 
Também no dia do Cortejo de Reis a cena se repete: o lume acende-se mais cedo, as cozinheiras enchem-se de brios, a canela espalha-se sobre o arroz doce ou a aletria e cresce água na boca da pequenada que espreita na esperança de lamber a colher ou ter sorte maior e poder rapar o tacho! Oh maravilha! 

Porém, nesse ano, chegou o dia e a tradição não se cumpriu: a fogueira espreitou tímida para cozinhar um caldo magro. E ninguém reagiu: em breve a irmãzita seria batizada e não se podiam dar ao luxo de, em tão poucos dias, se banquetearem com duas bodas. 
Não foi por isso que deixaram de correr e fazer algazarra quando apareceu a estrela e logo se sumiu que o palácio do Herodes estava perto. Cavalgada ligeira e os três Reis a conferenciarem para prepararem a visita ao senhor de Jerusalém! 

O auto esgotou-se rápido e, mal a estrela foi levantada, a debandada foi geral com as mães mais apressadas para os últimos gravetos no borralho. 
Só que, na última volta do caminho, a porta do pátio escancarada provocou-lhes um arrepio; a corrida acelerou. Ainda não tinham chegado e já a criação a cacarejar lhes dizia que alguém abriu a tramela. E um baque sufocou-os: Será que…? 
- Qu’é do galo, … viste-lo? 
De facto, o galo tinha desaparecido misteriosamente! 
Maldita a hora!... Ai se eu o apanhava aqui… 
A guerra tinha terminado há poucos anos, a fome era negra e, à mínima distração a boda podia ficar estragada. E foi o caso: do galo assado nem o cheiro! 

Manuel


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Gafanha em "Recordações de Aveiro"

Foto da Família Ribau, cedida pelo Ângelo Ribau António Gomes da Rocha Madail escreveu na revista “Aveiro e o seu Distrito”, n.º 2 de 1966, um artigo com o título de “Impressões de Aveiro recolhidas em 1871».   Cita, em determinada altura, “Recordações de Aveiro”, de Guerra Leal, que aqui transcrevo: (…)  «No seguimento d'esta estrada ha uma ponte de um só arco, por baixo da qual atravessa o canal que vai a Ilhavo, Vista Alegre, Vagos, etc., e ha tambem a ponte denominada das Cambeias, proxima à Gafanha.  É curiosa e de data pouco remota a historia d'esta povoação original, que occupa uma pequena peninsula. Era tudo areal quando das partes de Mira para alli vieram os fundadores d' aquelIa colonia agricola, que á força de trabalho e perseverança conseguiu, com o lodo e moliço da ria, transformar uma grande parte do areal em terreno productivo. Foi crescendo a população, que já hoje conta uns 200 fogos, e o que fôra esteril areal pouco a pouco se transformou em fertil e

Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré

Alguns subsídios para a sua história Em 1888,  inicia-se a sementeira do penisco no pinhal velho, terminando, na área da atual Gafanha da Nazaré, em 1910. Somente em 1939 ultrapassou o sítio da capela de Nossa Senhora da Boa Hora, ficando a Mata da Gafanha posteriormente ligada à Mata de Mira. (MG) A Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré foi inaugurada numa segunda-feira, 8 de dezembro de 1958, Dia da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal. Contudo, o processo desenvolvido até àquela data foi demorado e complexo. Aliás, a sua existência legal data de 16 de novembro de 1936, decreto-lei 27 207. Os estudos do terreno foram iniciados pela Junta de Colonização Interna em 1937, onde se salientaram as «condições especiais de localização, vias de comunicação e características agrológicas», como se lê em “O Ilhavense”, que relata o dia festivo da inauguração. O projeto foi elaborado em 1942 e, após derrube da mata em 1947, começaram as obras no ano seguinte. Terraplanagens,

1.º Batizado

No livro dos assentos dos batizados realizados na Gafanha da Nazaré, obviamente depois da criação da paróquia, consta, como n.º 1, o nome de Maria, sem qualquer outra anotação no corpo da primeira página. Porém, na margem esquerda, debaixo do nome referido, tem a informação de que faleceu a 28-11-1910. Nada mais se sabe. O que se sabe e foi dado por adquirido é que o primeiro batizado, celebrado pelo nosso primeiro prior, Pe. João Ferreira Sardo, no dia 11 de setembro de 1910, foi Alexandrina Cordeiro. Admitimos que o nosso primeiro prior tomou posse como pároco no dia 10 de setembro de 1910, data que o Pe. João Vieira Rezende terá considerado como o da institucionalização da paróquia, criada por decreto do Bispo de Coimbra em 31 de agosto do referido ano. Diz assim o assento: «Na Capella da Cale da Villa, deste logar da Gafanha e freguesia de Nossa Senhora de Nazareth, do mesmo logar servindo provisoriamente de Egreja parochial da freguesia de Nossa Senhora de Nazareth, concelho d’Ilh