Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira com D. António Francisco |
Mais de meio século de vida intensa em prol da comunidade, nomeadamente, da família e de quem mais precisa, a Obra da Providência bem merece que a sua memória seja preservada. Não para ficar guardada numa qualquer gaveta de boas recordações, mas para servir de estímulo a todos, no sentido de nos abrirmos mais à solidariedade social e à caridade cristã.
Nascida num contexto com regras morais rígidas, onde qualquer fuga às normas religiosas era ponto de partida para certas marginalizações, incompreensíveis, mas reais, a Obra da Providência quis mostrar que esse era um caminho errado, pois as mães solteiras ou raparigas “desonradas” não podiam nem mereciam ser ostracizadas pelas suas próprias famílias e pelas comunidades a que pertenciam, como, de facto, acontecia, mesmo quando se vivia a fé católica, com muita devoção.
Os tempos foram mudando e mudando também foi a instituição, num claro esforço de se adaptar a novas realidades sociais que exigiam respostas imediatas. De lar para raparigas ou mulheres marginalizadas, a Obra começou a fixar a sua intervenção nas dificuldades sentidas pelas famílias, quando a mulher seguiu a opção de entrar no mercado do trabalho ou a isso se viu obrigada por razões circunstanciais. Sem descurar, contudo, por outras formas de agir, a atenção às mulheres em perigo moral, que essas estiveram na matriz da Obra da Providência.
A história de uma instituição nunca estará completa, por mais rubricas que a constituam e pelos mais variados detalhes que se registem. Sempre ficarão de fora muitas vivências, sobretudo se tivermos em conta a matriz cristã das fundadoras, Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira, marcadas pela sensibilidade da caridade que receberam e da educação religiosa e humana em que foram criadas.
Porém, o que se regista neste trabalho servirá para compreendermos até que ponto o Evangelho pode ajudar a traçar caminhos diferentes e inovadores de justiça social, de caridade cristã e de solidariedade fraterna.
A história da Obra da Providência, alicerçada na vida, dá-nos o exemplo concreto do que é estar na sociedade e servi-la, sem dela se servir.
Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira são duas mulheres que não podem ficar esquecidas, por todo um labor incansável ao longo de décadas em prol dos mais fragilizados.
Como vicentinas, fizeram o que podiam e souberam fazer em favor das pessoas, independentemente das suas ideias políticas, religiosas ou situações sociais, sem alardes e sem parangonas nos órgãos de comunicação social. Lutando contra muitos, mesmo no seio da Igreja a que sempre pertenceram como católicas comprometidas.
Diz-se, com carinho, que se reuniam todos os dias. Depois da missa. Não para dizer mal da vida alheia, mas para procurar soluções urgentes para os problemas dos que não tinham auxílio de ninguém. Nem sequer de departamentos oficiais que tinham obrigação de estar mais atentos. E não resolveram elas muitos casos difíceis a pedido de organismos estatais, com inteira disponibilidade e espírito cristão, sem teologias e filosofias tantas vezes balofas?
Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira foram duas MULHERES que se complementam. Razão e coração, sempre de braço dado, a olharem para os mais carenciados de afeto, pão e trabalho. E nelas, homenageamos os que se dão à sociedade, hoje como sempre, em tantas e tão diversas formas de serviço.
Fernando Martins
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