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Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré - 3

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Filiação na Federação do Folclore Português
Entretanto, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré não pára. Aspira a mais. E esse mais, passa, indubitavelmente, pela filiação na Federação do Folclore Português, entidade máxima para controle da genuinidade dos grupos etnográficos e de folclore. Em resposta a um ofício do Grupo de 15 de Julho de 1986, Severim Marques, membro do Conselho Técnico Regional daquela Federação, refere-se a uma Exposição Etnográfica organizada pelo Grupo que visitou em 7 do mesmo mês. E sublinha: “a vossa exposição agradou-nos sobremaneira e deu-nos até bastante satisfação por constatarmos que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, no limiar da sua vida, agora tomada a sério, manifestou o sentido e a consciência do que é o folclore, que não é nem mais nem menos que uma parte das páginas brilhantes do grande livro da cultura popular. O folclore não é só trajar, dançar e cantar ao som de melodiosas músicas tiradas de instrumentos musicais que os nossos avoengos utilizaram no seu espaço e no tempo, não! O folclore é um mundo de tradições do nosso povo que é preciso preservar.” Depois de considerar a exposição como “uma valiosa mostra das potencialidades das boas gentes de antanho das Gafanhas”, bem como “o espelho de uma força de vontade que, naturalmente, terá por detrás de si algo de bem organizado, com ordem e mérito”, Severim Marques frisa que “o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré poderá vir a enfileirar com os melhores agrupamentos folclóricos do nosso País”. Por outro lado, aquele responsável regional pelo folclore anuncia que “só depois de vermos o Grupo, incluindo como é óbvio dançarinos/nas, tocata, figurantes devidamente trajados”, e de se certificarem do valor das “recolhas, origem dos trajes de festa, domingar, romaria e dos vários trajes de trabalho e porventura outros”, mas também do que diz respeito “às danças e músicas, bem como ao uso e utilização dos instrumentos musicais que os vossos antepassados usaram e utilizaram em romarias”, é que se procederá à admissão do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré no seio da Federação do Folclore Português. Este ofício de Severim Marque mostra à evidência que o Grupo teve de percorrer um longo caminho de recolha, selecção, estudo, registo, ensaio e apresentação das tradições etnofolclóricas das Gafanhas, até chegar a fazer parte de pleno direito da Federação do Folclore Português. Em 16 de Maio de 1988, o presidente da Federação, Augusto Gomes dos Santos, informa por ofício que tem a honra de comunicar que, “por proposta do Conselho Técnico Regional, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré reúne condições para ser inscrito” na Federação como sócio efectivo, o que veio a acontecer precisamente nessa data. Entretanto, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, quase desde os primeiros passos, participa em inúmeros espectáculos e festivais etnográficos e folclóricos por todo o País, incluindo os Açores, e mesmo pelo estrangeiro. Actua em França, Alemanha, Itália, Espanha, participa em espectáculos na RTP, grava para o filme “Os Pescadores”, sobre a obra homónima de Raul Brandão, o escritor que porventura mais e melhor cantou a Ria de Aveiro, e organizou na terra que lhe serve de berço 19 Festivais Nacionais de Folclore, alguns deles com a marca de internacionais. Este ano será, portanto, o XIX Festival. Por outro lado, não descurou a organização de dois Colóquios: um em 1993, sobre “Gafanhas: usos, costumes e tradições”; e outro, em 1998, sobre “A pesca do bacalhau — o que foi”. Participou em diversos espectáculos na EXPO’98 e até 1999 organizou quatro Encontro de Cantares de Janeiras. De registar, ainda, o seu envolvimento em várias exposições ligadas à etnografia, especialmente na Gafanha da Nazaré. O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré é, desde Fevereiro de 1995, Associação de Utilidade Pública. Antes disso, porém, mais concretamente desde 26 de Junho de 1991, foi galardoado pela Câmara Municipal de Ílhavo com a Medalha de Mérito Cultural, por proposta da Assembleia e da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré. Diz o ofício da Junta de Freguesia enviado à Câmara Municipal: “Anexamos proposta aprovada por unanimidade na Assembleia de Freguesia da Gafanha da Nazaré em sua reunião de Abril [1991], mandatando a Junta de Freguesia para desenvolver acções junto da Câmara Municipal de Ílhavo, no sentido de ser atribuída a medalha de mérito cultural ao Grupo Etnográfico da Vila da Gafanha da Nazaré. A Junta de Freguesia deliberou, por unanimidade, dar seguimento à proposta, por estar de acordo com o seu conteúdo, Ass) Mário Fernandes Cardoso Júnior, presidente da Junta de Freguesia”. E em nota, há o seguinte registo: “O presidente [Manuel da Rocha Galante] subscreve os considerandos subscritos pela Assembleia de Freguesia e canalizados à Câmara pela Junta de Freguesia. Foi deliberado por unanimidade concordar com a presente proposta.” Fernando Martins :

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